Certificados de Aforro vs.Depósitos a Prazo: o que realmente compensa hoje?
Nos últimos anos, o aumento das taxas de juro voltou a despertar um interesse esquecido: o das poupanças tradicionais. Depois de uma década de juros quase nulos, muitos portugueses voltaram a olhar para os Certificados de Aforro e os Depósitos a Prazo como opções reais para guardar dinheiro com segurança.
Mas, afinal, qual é a melhor escolha para si, emprestar ao Estado ou ao banco?
Ambos prometem segurança e rendimento, mas as semelhanças acabam aí. A forma como remuneram, o acesso ao dinheiro, e até o risco envolvido são diferentes.Este artigo explica essas diferenças com clareza e detalhe, para que possa decidir com confiança.
O que são Certificados de Aforro?
Os Certificados de Aforro (CA) são produtos de poupança criados pelo Estado Português, através do IGCP – Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública.
Quando compra certificados, está essencialmente a emprestar dinheiro ao Estado, que em troca se compromete a devolver o capital investido e a pagar juros.
Atualmente vigora a Série F, lançada em 2023.
Principais características
- Prazo máximo: 15 anos.
- Subscrição mínima: 100 €.
- Montante máximo por titular: 100.000 €.
- Taxa base: indexada à Euribor a 3 meses, com um limite máximo (“cap”) de 2,5%.
- Juros capitalizados trimestralmente (ou seja, os juros geram novos juros).
- Sem comissões de subscrição ou resgate.
A partir do 2.º ano, há prémios de permanência, uma espécie de “bónus de fidelidade”, que aumentam a taxa até +1,75% nos últimos anos.
Isto significa que quem mantém o investimento mais tempo é recompensado com rendimentos mais altos.
Além disso, os certificados podem ser resgatados após 3 meses, sem penalizações, o que oferece alguma flexibilidade.
O que são Depósitos a Prazo?
Os Depósitos a Prazo são produtos oferecidos pelos bancos.
Funciona de forma semelhante: o cliente deposita dinheiro por um período determinado (ex.: 6 meses, 1 ano, 2 anos) e recebe juros no final.
Características principais:
- Taxa de juro fixa ou variável.
- Prazo definido, que pode variar de 3 meses a 5 anos.
- Montante mínimo: depende do banco (muitas vezes 500 € ou 1.000 €).
- Garantia de depósitos: até 100.000 € por titular e por banco, através do Fundo de Garantia de Depósitos.
- Juros pagos no fim ou periodicamente, dependendo do contrato.
- Possibilidade de mobilização antecipada (mas com perda de juros em muitos casos).
Em outubro de 2025, as taxas médias dos depósitos a prazo para particulares situavam-se entre 2,2% e 3,0% TANB, conforme o prazo e o banco.
Comparação direta: Certificados de Aforro vs. Depósitos a Prazo
Quando queremos poupar com segurança, há duas opções muito populares: os Certificados de Aforro e os Depósitos a Prazo.Ambos permitem fazer crescer o dinheiro através de juros, mas funcionam de forma diferente.
1. Quem guarda o dinheiro
Nos Certificados de Aforro, o dinheiro é emprestado ao Estado Português, que garante a totalidade do valor investido.
Nos Depósitos a Prazo, o dinheiro é colocado num banco, e está protegido até 100.000 euros por banco, através do Fundo de Garantia de Depósitos.
Conclusão: os dois são seguros, mas nos Certificados de Aforro a proteção é total.
2. Taxa de juro (outubro de 2025)
- Certificados de Aforro: cerca de 2,0% por ano, podendo chegar até 3,75% se o dinheiro ficar aplicado durante vários anos.
- Depósitos a Prazo: entre 2,2% e 3,0%, dependendo do banco e do prazo escolhido.
Conclusão: os Depósitos a Prazo costumam render um pouco mais, mas a diferença é pequena.
3. Exemplo prático
Se aplicar 10.000 euros durante 1 ano:
- Nos Certificados de Aforro (2%), ganha cerca de 200 euros brutos.
- Num Depósito a Prazo (2,8%), ganha cerca de 280 euros brutos.
Depois do imposto de 28% sobre os juros, o ganho líquido será:
- Certificados de Aforro: 144 euros
- Depósito a Prazo: 202 euros
Conclusão: o Depósito a Prazo pode render mais a curto prazo, mas a diferença não é grande.
4. Quando pode levantar o dinheiro
- Nos Certificados de Aforro, pode levantar o dinheiro após 3 meses, sem perder juros.
- Nos Depósitos a Prazo, se levantar antes do prazo, pode perder parte ou todos os juros.
Conclusão: os Certificados de Aforro são mais flexíveis.
5. Custos e acesso
- Certificados de Aforro: não têm comissões nem penalizações. Podem ser feitos online ou nos CTT.
- Depósitos a Prazo: podem ter comissões ou penalizações em alguns bancos. São feitos diretamente no banco.
6. Prazo máximo
O que muda para o seu bolso: rentabilidade real
Vamos a um exemplo prático.
Suponha que investe 10.000 € durante 3 anos.
Cenário A –Certificados de Aforro
- Taxa base média: 2,0%
- Prémio médio de permanência: +0,5%
- Juros capitalizados trimestralmente → rendimento bruto acumulado ≈ 6,2%
- Após imposto (28%): rendimento líquido ≈ 4,46%
- Valor final: 10.446 €
Cenário B –Depósito a Prazo
- Taxa fixa média: 2,7% TANB
- Juros simples pagos no final → rendimento bruto: 8,1%
- Após imposto (28%): rendimento líquido ≈ 5,83%
- Valor final: 10.583 €
Vantagens e desvantagens de cada opção
Certificados de Aforro
Vantagens
- Garantidos pelo Estado (baixo risco).
- Juros compostos (capitalização).
- Flexibilidade para resgatar após 3 meses.
- Sem comissões.
- Prémios adicionais no longo prazo.
Desvantagens
- Taxa limitada a 2,5%.
- Menos competitivos quando a Euribor sobe muito.
- Não permitem titularidade conjunta.
- Apenas disponíveis para particulares.
Depósitos a Prazo
Vantagens
- Taxas de juro mais altas em prazos curtos.
- Oferta variada (pode escolher taxa, prazo e instituição).
- Garantia até 100.000 € por banco.
- Possibilidade de renovações automáticas.
Desvantagens
- Resgate antecipado pode anular juros.
- Alguns bancos cobram comissões em depósitos especiais.
- Juros não são capitalizados automaticamente.
- Menor previsibilidade se for taxa variável.
Segurança e risco: o que deve saber
Tanto os certificados como os depósitos são produtos de baixo risco, mas há diferenças subtis:
- Nos Certificados de Aforro, o risco depende da capacidade financeira do Estado português. Sendo dívida pública, é considerado seguro, mas não está coberto pelo Fundo de Garantia de Depósitos.
- Nos Depósitos a Prazo, o risco está ligado à saúde do banco. Contudo, há proteção até 100.000 € por titular, o que cobre amplamente a maioria dos pequenos aforradores.
Para montantes elevados (acima de 100 mil euros), é prudente dividir o dinheiro por várias instituições ou optar parcialmente por certificados.
Liquidez: quando pode precisar do dinheiro
Esta é uma das diferenças práticas mais relevantes.
Nos certificados, após os primeiros 3 meses, pode levantar o dinheiro a qualquer momento sem perder juros.
Já nos depósitos, o levantamento antecipado é possível, mas normalmente implica perder total ou parcialmente os juros do período em curso.
Por isso, se valoriza flexibilidade, os Certificados de Aforro são mais convenientes.
Se, pelo contrário, pode imobilizar o dinheiro durante meses ou anos, os Depósitos a Prazo tendem a compensar mais.
Fiscalidade: igual para ambos
Em ambos os casos:
- Os juros são tributados à taxa liberatória de 28% (IRS).
- Pode optar pelo englobamento em sede de IRS se o seu escalão for inferior a 28%.
- Não há deduções fiscais associadas.
O impacto da inflação
Um ponto essencial que muitos esquecem: a inflação real.
Mesmo com juros positivos, o poder de compra pode cair se a inflação for superior ao rendimento nominal.
Exemplo:
Se a taxa de juro líquida for 2,5% mas a inflação for 3%, o seu dinheiro perde 0,5%de valor real por ano.
Por isso, tanto certificados como depósitos são instrumentos de preservação parcial de capital, não de crescimento.
Servem para guardar dinheiro com segurança, não para o fazer crescer deforma significativa.
Que perfil deve escolher cada produto?
Certificados de Aforro
Ideais para:
- Quem procura segurança e flexibilidade.
- Quem não quer preocupar-se com renovações.
- Quem prefere produtos simples, sem comissões.
- Quem tem horizonte de médio a longo prazo.
Depósitos a Prazo
Ideais para:
- Quem quer rentabilidade imediata e aceita alguma rigidez.
- Quem gosta de comparar ofertas e negociar taxas.
- Quem tem objetivos de curto prazo (por exemplo, juntar para uma entrada de casa).
- Quem quer manter tudo na mesma instituição bancária.
Tendência atual e previsões
Segundo o relatório comparativo de outubro de 2025, osCertificados de Aforro Série F rendem 2,009% (taxa base) e continuam a atrair investidores pela segurança e simplicidade.
Contudo, os Depósitos a Prazo têm vindo a oferecer taxas médias entre 2,2% e 3%, refletindo a concorrência bancária e a descida gradual da Euribor.
A tendência para 2026 dependerá do ritmo de descida das taxas diretoras do BCE:
- Se a Euribor cair mais, os depósitos perdem atratividade mais rápido.
- Os certificados, por estarem limitados a 2,5%, permanecerão estáveis, oferecendo previsibilidade.
Conclusão:o que faz mais sentido para si?
Não existe uma resposta única, mas existe uma decisão informada.
Se o seu objetivo é preservar o valor das poupanças com total segurança e flexibilidade, os Certificados de Aforro continuam a ser uma excelente opção.
Mas se procura melhor rendimento no curto prazo e não precisa do dinheiro de imediato, os Depósitos a Prazo podem compensar mais.
O ideal, para muitas famílias portuguesas, é combinar ambos:
- Uma parte em Certificados de Aforro, para segurança e liquidez.
- Outra parte em Depósitos a Prazo, para rendimento adicional.
O segredo está no equilíbrio e na clareza.
Porque poupar não deve ser um ato de fé, mas uma decisão consciente.
Glossário
Euribor – Taxa média à qual os bancos europeus emprestam dinheiro entre si. Serve de referência para calcular os juros de vários produtos financeiros.
TANB – Taxa Anual Nominal Bruta. Indica a remuneração anual antes de impostos.
TAEG – Taxa Anual Efetiva Global. Inclui juros e comissões, refletindo o custo total de um crédito.
Capitalização de juros – Quando os juros gerados são somados ao capital, passando também a render juros.
Liquidez – Facilidade com que se pode converter um investimento em dinheiro.
Englobamento fiscal – Opção de incluir os rendimentos de juros na declaração anual de IRS, podendo reduzir a taxa efetiva de imposto.
Fontes consultadas
- IGCP – Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (dados oficiais sobre Certificados de Aforro).
- Banco de Portugal – Estatísticas de poupança e taxas de juro (2025).
- ECO, Jornal de Negócios e Idealista – Dados sobre taxas Euribor e evolução do mercado bancário.
- Portal Todos Contam – Literacia financeira e produtos de poupança.



