Comparar seguros automóvel: coberturas, franquias e decisões conscientes
Escolher um seguro automóvel não é apenas uma questão de preço. É uma decisão que protege o seu património, a sua tranquilidade e o seu orçamento. E como todas as decisões financeiras relevantes, deve ser tomada com informação clara e sem pressa.
Muitos portugueses contratam o primeiro seguro que o stand ou o banco propõe. Outros renovam automaticamente o mesmo contrato todos os anos, sem perceber se ainda é o mais adequado. O resultado é previsível: pagam mais do que deviam ou ficam menos protegidos do que imaginam.
Neste artigo explicamos, de forma simples e prática, como comparar seguros automóvel em Portugal o que deve analisar, como funcionam as coberturas e as franquias, e quais são as diferenças reais entre o “mínimo obrigatório” e o “todos os riscos”.
O mercado de seguros automóvel em Portugal
Em Portugal, o seguro automóvel é o produto não vida mais contratado. A lei obriga todos os veículos a terem, pelo menos, seguro de responsabilidade civil (RC), que cobre danos causados a terceiros.
O mercado é dominado por alguns grandes grupos:
- Fidelidade, com cerca de 30% da produção total;
- Generali (Tranquilidade e ex-Liberty) e Ageas (OC e Caixa), com quotas relevantes;
- Allianz Portugal, Lusitânia, Victoria e Caravela, entre outras, com presença significativa.
Cada seguradora tem a sua estratégia: umas apostam na digitalização (MyFidelidade), outras em redes de oficinas parceiras (Allianz), e outras ainda em pacotes modulares, como os “Pacotes T” da Tranquilidade.
A concorrência é grande e é por isso que comparar compensa.
Tipos de seguro automóvel
a) Responsabilidade Civil Obrigatória (RC)
É o seguro mínimo exigido por lei. Cobre apenas os danos que o seu carro causa a terceiros, sejam materiais (outros veículos, muros, bens) ou corporais (ferimentos, hospitalizações).
Não cobre danos no seu próprio carro. Se o sinistro for culpa sua, será você a pagar as reparações.
É a escolha mais barata, mas também a mais limitada.
b) Terceiros Ampliado (ou Terceiros Plus)
Inclui tudo o que está na RC obrigatória e acrescenta proteções importantes:
- Incêndio, roubo e fenómenos da natureza (como granizo, queda de árvore, inundações);
- Assistência em viagem (reboque, carro de substituição, transporte de passageiros);
- Proteção jurídica em caso de litígio.
É a opção mais escolhida pelos condutores de carros com mais de cinco anos, pois oferece equilíbrio entre preço e segurança.
c) Danos próprios (ou “todos os riscos”)
Vai além das anteriores e cobre também danos no seu próprio veículo, mesmo que o acidente tenha sido culpa sua. Inclui choque, capotamento, vandalismo e perda total.
É o seguro mais completo e mais caro. Mas para quem tem um carro novo, elétrico ou de alto valor, esta opção pode ser a diferença entre um imprevisto e uma perda financeira significativa.
O que realmente faz diferença: as coberturas
Muitos condutores olham para o preço final e ignoram o detalhe que mais pesa nas consequências: as coberturas.
As mais comuns incluem:
- Quebra isolada de vidros: cobre o pára-brisas, vidros laterais e traseiro em caso de impacto isolado.
- Fenómenos da natureza: inundações, tempestades, granizo.
- Assistência em viagem 24h: reboque, transporte, reparação no local.
- Furto ou roubo: cobre o valor do veículo (parcial ou total).
- Vandalismo: riscos, danos intencionais, atos de terceiros.
- Carro de substituição: assegura mobilidade enquanto o veículo está na oficina.
- Proteção jurídica: ajuda em processos ou litígios decorrentes do acidente.
A comparação deve ser feita linha a linha. Dois seguros com o mesmo preço podem oferecer coberturas muito diferentes.
O papel da franquia
A franquia é o valor que fica a seu cargo em caso de sinistro. Funciona como uma “autoparticipação”: o seguro cobre apenas o que ultrapassa esse valor.
Por exemplo:
- Se a franquia for de 500 € e o arranjo custar 2.000 €, a seguradora paga 1.500 €.
- Se o arranjo custar 400 €, paga tudo do seu bolso.
Quanto maior a franquia, menor o prémio do seguro mas também maior o risco em caso de acidente.
Na prática, a franquia é uma forma de equilibrar custo e proteção. Pode compensar para condutores com histórico de poucos sinistros, mas não para quem circula diariamente em meio urbano ou tem viatura de valor elevado.
Como comparar seguros automóvel
A comparação deve assentar em quatro pilares:
1. Coberturas reais
Mais importante do que o nome do plano (“Base”, “Top”, “Plus”) é o que ele inclui. Leia o quadro de coberturas e verifique exclusões (por exemplo, alguns planos não cobrem vandalismo).
2. Franquia aplicável
Verifique se a franquia é fixa ou percentual, e se é por evento ou por componente (por exemplo, diferentes valores para vidros e carroçaria).
3. Serviços complementares
Algumas seguradoras oferecem benefícios adicionais descontos em oficinas, acesso a carro de substituição ou reparações rápidas sem peritagem.
4. Reputação e apoio ao cliente
Mais do que uma app moderna, o que conta é o serviço no momento do sinistro. Consulte opiniões e tempo médio de resposta.
Quanto pagam os portugueses?
Segundo dados do Instituto de Seguros de Portugal (ASF), o prémio médio anual de seguro automóvel ronda 310 €, mas varia fortemente consoante o tipo de cobertura, idade do condutor e região.
Os contratos de danos próprios podem custar entre 600 € e 1.200 € anuais, enquanto um seguro RC básico pode ficar por menos de 200 €.
As diferenças regionais são reais: em Lisboa e no Porto os prémios são mais elevados devido à maior sinistralidade urbana.
O que muda entre seguradoras?
Cada companhia tem a sua abordagem:
- Fidelidade: destaca-se pela rede MyFidelidade e pela integração digital.
- Allianz: aposta em oficinas parceiras e serviços de mobilidade.
- Tranquilidade (Generali): oferece pacotes modulares (Base, Mais, Top).
- Ageas: forte integração com bancos e canais diretos.
- Lusitânia e Victoria: posicionamento mais tradicional e proximidade com mediadores locais.
A escolha depende tanto do preço como da forma como quer ser atendido online, por mediador ou num balcão físico.
Dicas para escolher com segurança
- Compare sempre mais de duas seguradoras. As diferenças podem chegar a 40%.
- Leia as condições particulares e gerais. É nelas que estão as exclusões.
- Não decida apenas pelo preço. Um seguro barato pode não cobrir o que precisa.
- Revise o contrato todos os anos. As necessidades mudam e o mercado também.
- Informe-se sobre descontos cumulativos. Algumas seguradoras reduzem o prémio após períodos sem sinistros.
A importância da literacia financeira
Em Portugal, cerca de 76,9% dos adultos ainda têm dificuldades em compreender conceitos financeiros básicos, como taxas ou coberturas de seguro.
Esta baixa literacia leva muitos consumidores a tomarem decisões com base apenas no custo imediato, em vez de analisarem o risco e o valor de longo prazo.
Comparar seguros automóvel é também um exercício de educação financeira: compreender o que se paga, o que se recebe e o que se arrisca.
Como poupar sem perder proteção
Existem formas de equilibrar custo e segurança:
- Aumentar a franquia, se o veículo tiver poucos quilómetros anuais;
- Optar por franquias diferenciadas (por exemplo, sem franquia para vidros mas com franquia em danos próprios);
- Rever o valor do veículo segurado, pois o carro desvaloriza com o tempo;
- Evitar coberturas redundantes (por exemplo, se já tiver assistência em viagem noutro serviço).
O segredo é adaptar o seguro à sua realidade atual, e não à que tinha há três anos.
Quando deve reconsiderar o seu seguro
Há momentos em que faz sentido reavaliar o contrato:
- Mudou de carro (novo ou usado);
- Alterou o local de residência (ou garagem habitual);
- O carro passou dos cinco anos de idade;
- Mudou de perfil de utilização (de trabalho para lazer, por exemplo).
Em qualquer destes casos, o seu risco muda e o preço deve mudar também.
Conclusão
Comparar seguros automóvel é mais do que procurar o “mais barato”. É compreender o que está a proteger e até onde quer assumir risco.
Um bom seguro é aquele que lhe permite dormir tranquilo: sabe quanto paga, o que cobre, e o que terá de suportar se algo acontecer.
Em última análise, a melhor decisão é sempre a informada aquela que combina clareza, equilíbrio e adequação à sua vida real.
Glossário
Responsabilidade Civil (RC): cobertura obrigatória que protege terceiros em caso de acidente causado por si.
Cobertura facultativa: proteção adicional que pode ser contratada opcionalmente.
Danos próprios: cobertura que protege o seu próprio veículo, mesmo que o acidente seja culpa sua.
Franquia: valor que o segurado suporta em caso de sinistro.
TAEG: taxa anual efetiva global mede o custo total de um crédito, usada aqui apenas por analogia para comparar custos de seguro.
Sinistro: acontecimento que dá origem a uma indemnização (acidente, roubo, etc.).
Fontes consultadas
- ASF (Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões) – Relatórios de mercado automóvel 2024
- Banco de Portugal, Relatório sobre os Hábitos Financeiros e Uso de Crédito em Portugal
- Perfil dos Consumidores por Tipo de Crédito em Portugal
- Seguradoras no mercado português
- Tranquilidade, Fidelidade, Allianz, Ageas, Lusitânia e Victoria – websites oficiais e simuladores (consultados 2025)



