Seguros de património: o escudo silencioso que protege a sua casa

Seguros de património: o escudo silencioso que protege a sua casa

Proteger a casa é mais do que um ato financeiro, é um gesto de prudência. A sua casa não é apenas um bem material: é o espaço onde constrói memórias, segurança e futuro.
Mas, em Portugal, muitos proprietários ainda desconhecem como funcionam os seguros de património e de habitação ou acreditam que “o seguro do banco já chega”. O problema é que essa perceção pode deixar lacunas graves de proteção e só se percebe quando acontece um sinistro.

Neste artigo, explicamos de forma simples e prática o que está em causa, quais são as principais coberturas e o que deve considerar antes de escolher ou rever o seu seguro.

O que é um seguro de património e porque deve importar-se com isso

Um seguro de património é um contrato que protege os bens materiais de uma pessoa sejam imóveis, equipamentos ou outros ativos contra perdas ou danos inesperados. No caso das famílias, o foco está nas habitações: casas, apartamentos ou anexos.

Em Portugal, o produto mais comum é o seguro multirriscos habitação, que cobre a estrutura da casa (o imóvel) e, se quiser, também o recheio (os bens no interior). Pode incluir desde incêndios e inundações a roubos ou fenómenos naturais.

Segundo o Relatório sobre Seguros de Património e Habitação em Portugal, cerca de 80% das habitações com crédito têm um seguro ativo, mas em mais de 40% dos casos o cliente desconhece exatamente o que o contrato cobre. É um número preocupante e mostra que muitos seguros são tratados como mera formalidade bancária, e não como parte essencial da segurança familiar.

Seguro obrigatório vs. seguro recomendado

Nem todos os seguros de habitação são obrigatórios por lei. Mas há um caso em que o são:

  • Seguro de incêndio (obrigatório): todas as frações em propriedade horizontal (condomínios) devem estar protegidas contra incêndio. É uma exigência legal e cobre tanto as áreas comuns como as partes privativas, pelo valor de reconstrução.

Contudo, na prática, a maioria das pessoas contrata seguros multirriscos, muito mais completos.
Estes abrangem, além do incêndio, danos por água, fenómenos sísmicos, roubos, vandalismo, tempestades e responsabilidade civil.

Um ponto importante: se tem crédito habitação, o banco exige um seguro multirriscos, mas este protege prioritariamente o próprio banco (a instituição mutuante). Por isso, convém confirmar se a cobertura e o capital seguro estão realmente alinhados com o seu património.

Coberturas que fazem a diferença

O seguro multirriscos habitação pode parecer igual em todas as seguradoras, mas a verdade está nas entrelinhas.
As coberturas base variam, e algumas diferenças podem ser decisivas em caso de sinistro. Eis as principais:

a) Incêndio, queda de raio e explosão

É a cobertura mínima e obrigatória. Protege a estrutura e, em muitos casos, também o recheio contra fogo, calor, fumo e até danos provocados no combate ao incêndio.

b) Danos por água

Uma das coberturas mais acionadas em Portugal. Inclui estragos por rebentamento de canalizações, infiltrações, falhas em máquinas de lavar ou fenómenos naturais como cheias e inundações.
As apólices mais completas incluem pesquisa de avarias, ou seja, os custos para descobrir a origem da fuga algo que evita despesas inesperadas.

c) Tempestades e fenómenos meteorológicos

Portugal tem registado um aumento de fenómenos extremos. De 2010 a 2024, as indemnizações por eventos climáticos cresceram mais de 60%, segundo dados da ASF (Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões).
Uma cobertura de tempestade protege contra ventos fortes, granizo, trombas de água e quedas de árvores.

d) Fenómenos sísmicos

Nem todas as apólices incluem sismos. No entanto, especialistas e seguradoras recomendam esta proteção especialmente em regiões de maior risco, como Lisboa e Algarve.
O custo adicional médio é de cerca de 50 € por ano para um capital de 125 mil €, um valor pequeno para quem quer dormir descansado.

e) Roubo e furto

Cobre o roubo dentro da habitação, e algumas apólices estendem a proteção ao exterior (por exemplo, arrombamento de garagem ou roubo de bicicleta).
Convém verificar se exige sinais de arrombamento e qual o limite de indemnização por objeto.

f) Responsabilidade civil

Protege contra danos causados a terceiros por exemplo, uma fuga de água que afete o apartamento vizinho ou a queda de um vaso da sua varanda.
É uma cobertura muitas vezes subestimada, mas pode evitar despesas de milhares de euros.

g) Perda de rendas e proteção jurídica

Essencial para quem arrenda imóveis. Compensa o senhorio por rendas perdidas se a casa ficar inabitável após um sinistro e cobre despesas com litígios.

O que o seguro do banco cobre (e o que não cobre)

Quando se contrai um crédito habitação, o banco normalmente impõe dois seguros:

  1. Seguro de vida (protege o banco e a família caso algo aconteça ao titular)
  2. Seguro multirriscos habitação (protege o imóvel hipotecado)

O ponto crítico: muitas vezes, o cliente pensa que este seguro cobre tudo, mas a apólice pode estar limitada apenas à estrutura e não ao recheio.
Por exemplo, se houver um curto-circuito que destrói o seu mobiliário, o seguro do banco pode não pagar nada.

Por isso, o ideal é rever a apólice com calma e, se necessário, reforçar coberturas ou capital seguro.
A ASF recomenda que o valor seguro corresponda ao custo de reconstrução, e não ao valor de mercado da casa são conceitos diferentes.

Como calcular o capital seguro

O capital seguro é o montante máximo que a seguradora pagará em caso de sinistro total.
Se estiver subavaliado, a indemnização será proporcionalmente reduzida.

Exemplo prático:
Se a casa vale 200 mil euros, mas o seguro cobre apenas 100 mil, um incêndio que cause 50 mil euros de prejuízo resultará numa indemnização de apenas 25 mil euros.
É a chamada regra proporcional e é a principal razão para muitas famílias receberem menos do que esperavam.

Como escolher um bom seguro de património

Antes de assinar ou renovar, vale a pena seguir três passos:

1. Compare coberturas, não só preços.
Duas apólices de 100 € anuais podem ser radicalmente diferentes. Prefira comparações lado a lado com base nas exclusões e limites.

2. Avalie o perfil da casa e da região.
Vive numa zona sísmica? O edifício tem mais de 30 anos? Está perto de uma ribeira? Tudo isso deve pesar na decisão.

3. Leia as exclusões com atenção.
Muitos sinistros são recusados por cláusulas específicas, como “má conservação do imóvel” ou “falta de manutenção”.

O papel da literacia financeira

Segundo o Relatório sobre os Hábitos Financeiros e Uso de Crédito em Portugal, apenas 27% dos portugueses afirmam compreender bem o funcionamento de seguros e créditos.
Este défice de literacia financeira explica por que motivo tantos consumidores aceitam apólices padronizadas sem perceber o que contratam.

A ASF e o Banco de Portugal têm reforçado campanhas de esclarecimento, e a recomendação é clara: pergunte, peça simulações e leia antes de assinar.
Um bom intermediário ou consultor pode ajudar a comparar opções, interpretar as coberturas e garantir que o seguro cumpre o seu verdadeiro objetivo proteger, não complicar.

O seguro como parte da estratégia de tranquilidade financeira

Ter seguro não é apenas “cumprir a lei” é preservar o património familiar.
Num país onde 77% das famílias são proprietárias da casa onde vivem, o lar é o ativo mais valioso da maioria dos portugueses.

E, no entanto, em cada ano, mais de 40 mil famílias registam sinistros de habitação, muitos com perdas que poderiam ter sido mitigadas por uma cobertura adequada (dados ASF, 2024).
O seguro de património é, por isso, o elo entre a tranquilidade e a imprevisibilidade.

Glossário essencial

Apólice – Documento contratual do seguro, com direitos e deveres do segurado e da seguradora.
Capital seguro – Valor máximo a pagar pela seguradora em caso de sinistro.
Cobertura – Situação ou evento específico protegido pelo seguro.
Franquia – Parte do prejuízo suportada pelo cliente em cada sinistro.
Recheio – Bens móveis no interior da habitação (mobiliário, eletrodomésticos, equipamentos).
Responsabilidade civil – Proteção contra danos causados a terceiros.
Sinistro – Ocorrência de um evento coberto pelo seguro (ex: incêndio, inundação).

Fontes consultadas

  • ASF – Relatório sobre Seguros de Património e Habitação em Portugal (2024)
  • Banco de Portugal – Relatório sobre os Hábitos Financeiros e Uso de Crédito em Portugal (2024)
  • ASF – Guia do Consumidor: Seguro Multirriscos Habitação (2023)
  • Instituto de Seguros de Portugal – Dados Estatísticos 2024

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